Esse é um texto mais técnico e talvez não interesse a muitos, mas ajuda aqueles que assim como eu, tem que fazer justificativa de compra de materiais nas instituições que trabalham :)
Inicialmente, devemos conceituar que Conservação é um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o
processo de degradação de documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de tratamentos específicos
(higienização, reparos e acondicionamentos).
Avaliar a necessidade do seu acervo, bem como as características dos materiais constituintes desses (se orgânicos ou inorgânicos, técnicas de produção etc), é de suma importância para a escolha apropriada para a resolução do trabalho a ser realizado, bem como avaliar cuidadosamente cada objeto da reserva técnica ou do acervo é primordial para a elaboração de uma embalagem, uma vez que cada um desses objetos possui um comportamento específico diante de mudanças de temperatura e de umidade, apresentando, portanto, um estado de conservação diferente. Dessa forma, pensar, antecipadamente, em acondicionamento é ser um profissional precavido em relação a possíveis fatores que possam acelerar o processo de degradação dos documentos, objetos ou das obras que devem ser preservados.
Para Brandão, Spinelli e França (2011) a higienização é uma prática que se consiste na remoção da poeira mais superficial acumulada sobre o papel com o auxílio de trinchas. E deve anteceder a todas as intervenções, inclusive aos testes, pois a poeira pode interferir ou até mesmo mascarar o resultado dos testes. É a partir deste procedimento, que é possível identificar seu estado de conservação e possíveis fatores de degradação (como manchas, manchas de ferrugem, manchas de cola, manchas de ferrugem, manchas de gordura, objetos metálicos, cola adesiva, deformações no papel, rasgos, sujidades, microrganismos (fungos e bactérias), dejeto de insetos, ou seja, partículas de sujidades prejudiciais ao papel, agilizando seu processo de deterioração. Desta forma, a poeira também é um fator degradativo e essas partículas de sujidade podem enfraquecer o papel, tornando-o frágil e quebradiço. As mais variadas partículas encontradas na superfície do papel, podem possibilitar o desenvolvimento de microorganismos e aumento dos efeitos de uma contaminação atmosférica, propiciando assim, o surgimento de oxidações e acidificações. A higienização é a remoção de todas as sujidades encontradas no papel e de todos os elementos considerados nocivos aos papéis como: gorduras ou gordura de mão, manchas d´água, manchas de ferrugem ou oxidação, manchas de cola, amarelecimento, descoloração do suporte e rasgos.
A escolha do material para a elaboração de um acondicionamento deve levar em consideração a estabilidade química do material, sua resistência aos agentes de degradação, redução do impacto ambiental e do manuseio inadequado, além da proteção e apoio físico à obra. Ao escolhermos um material quimicamente instável, podemos piorar o estado de conservação da obra, além de ocasionar danos irreversíveis a estas. Um bom exemplo é a acidez encontrada em alguns papéis utilizados na fabricação de embalagens, que dependendo do suporte pode ser transferida para os documentos causando, por exemplo, mudança de cor e aceleração do processo de deterioração e degradação, assim como em uma situação de escolha correta de materiais, porém acondicionados em condições climáticas ruins pode ocorrer danos parecidos.
Concluo então, que devemos sempre pesquisar e investigar sobre a tipologia das obras e documentos que estamos tratando, com reconhecimento dos materiais e técnicas que o constituem, um diagnóstico profundo do seu estado de conservação e a que tipo de materiais ele reage, pois muitos tipos são incompatíveis juntos, mesmo sendo estáveis isoladamente. Somente dessa forma teremos diretrizes para a confecção de embalagens e acondicionamentos de diversos documentos. Para o desenvolvimento dos trabalhos de conservação a que se propõe, deve comportar os seguintes materiais: conservação, juntamente com algumas informações sobre as características físicas e químicas e as reações intrínsecas e extrínsecas presentes nesses suportes.
Materiais e equipamentos
O papel é frequentemente utilizado na execução de acondicionamentos, entretanto, é necessário que se escolha o tipo mais adequado a cada objeto que será acondicionada, uma vez que cada objeto possui especificidade própria, e os elementos que o compõem, poderão reagir com determinados tipos de aditivos compostos no papel. É por esse motivo, que devemos escolher os materiais que possuem menos reagentes químicos. Ao pensarmos em elaborar invólucros com papel, procuramos sempre utilizar papel permanente, comumente conhecido como papel de qualidade arquivística, acid free e que ofereçam maior reserva alcalina.
O “Manual Técnico de Conservação e Preservação de Documentos” (2011), proposto pelos especialistas Emiliana Brandão, Jaime Spinelli e Camila França, nos diz que “os documentos devem ser acondicionados em caixas–arquivo, produzidas em material inerte ou alcalino. A maioria das caixas e pastas disponíveis no mercado são feita de papéis e papelões ácidos. A acidez migra através do contato, ou seja, uma embalagem confeccionada com material ácido fatalmente irá passar a acidez para os documentos nela acondicionados. As caixas comerciais poderão ser usadas desde que as mesmas sejam revestidas com papel alcalino” (SPINELLI, BRANDÃO, FRANÇA, 2011, p.29).
Segundo Fernanda Brito (2010) em sua publicação “ Confecção de embalagens para acondicionamento de documentos” para a Associação de Arquivistas de São Paulo o Papel filifold documenta é um “papel alcalino fabricado pela Filiperson do Brasil, considerado de qualidade arquivística e que possui como principal característica resistência a dobras e vincos” (BRITO, 2010, p. 4), e suas aplicações se consistem na realização de caixas, pastas, envelopes e guardas em geral. Quando sua gramatura é maior, chegando a 300g/m², a rigidez do papel é maior, favorecendo seu uso em caixas e álbuns de fotografia.
Papel cristal ou glassine é classificado como um “papel translúcido, resistente, que para fins de conservação deverá ter o pH neutro. Esse papel proporciona um melhor acondicionamento de materiais mais sensíveis como documentos e fotografias” (BRITO, 2010, p.5).
Já o Tyvek, é considerado um tecido- não - tecido, “composto por filamentos contínuos de polietileno de alta densidade, sendo suas fibras não direcionadas e consolidadas por meio de pressão e calor, com ausência de elementos ligantes, emendas ou aditivos, recebendo ainda um tratamento de corona para a ancoragem de tintas e adesivos e tratamento antiestático para facilitar a alimentação por folhas das máquinas impressoras. Suas principais características são baixo desprendimento de fibras e laminação. Ele pode ainda ser soldado, costurado, perfurado,cortado e vincado, além de ser atóxico, possui pH neutro e reciclável. Possui resistência a rasgo, tração, perfurações, água, mofo, apodrecimento, manchas e sujidades. Não é afetado pela maioria dos ácidos, bases e sais, apresenta resistência ainda a baixas temperaturas (até -73ºC), porém não é muito resistente a altas temperaturas começando a empolar a partir de 79ºC. Aplicações: revestimento interno e externo de caixas, fabricação de envelopes, pastas e entre folheamentos como isolante” (BRITO, 2010, p. 8)
A tela Nylon Monyl, tem seu uso variado no entre- folheamento de papéis na secagem da prensa de papel. Suas especificações são exatas para que justamente, não possa haver nenhum tipo de modificação física na estrutura do papel. A única empresa brasileira que fabrica esse tipo de tela é a empresa Tagape (www.tagape.com.br) sendo fornecedora de várias instituições como a Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro) e no setor de Obras Raras da Biblioteca Central da UnB. Foi desta maneira, portanto, que optamos por apenas um orçamento, visto que outras empresas não fornecem o mesmo trabalho.
No caso de rasgos na folha de um documento deve-se, em primeiro lugar, preparar a área danificada acamando as fibras do papel em ambos os lados do rasgo e em toda sua extensão. Com o auxílio de um pincel de trinchas macias e uma dobradeira (ou espátula) de osso ou de teflon. O papel escolhido para o remendo foi o japonês, e deve ser aplicado com cola metilcelulose. Para concluir, devemos efetuar a planificação do reparo deixando a folha tratada entre um tipo de sanduíche feito com tela monyl, mata-borrão e uma pranchas de madeira e, sobre esta colocar alguns pesos e deixar por um tempo determinado. Este procedimento permitirá um secagem plena da área recomposta evitando a contração das fibras e o possível ondulamento do documento. Já os documentos que apresentam algum tipo de deformação devem ser planificados em uma Prensa de Papel, entre folheados com tela monyl ou tecido voil, e prancha de madeira se necessário ser umedecido, sempre o fazer com água deionizada.
Ao adquirirmos todos os materiais para o acervo, numa perspectiva de longo prazo, estaremos oferecendo maior segurança o acervo, no sentido de acondicionamento, manuseio, reparo e higienização, aumentando a vida de cada objeto, sem a necessidade de procedimentos mais invasivos como o restauro.